Eu fico incomodada que a maioria de listas que encontro na internet me leva para livros de editoras gigantes e geralmente de não-ficção, crônicas e poesia. Nada contra absolutamente nada disso. Adoro autoras de não-ficção que se comprometem em investigar e transmitir conteúdo histórico, político e social, e não tenho nada contra crônicas e poesia. Mas sim, me dá certa angústia não encontrar escritoras independentes e de editoras pequenas, que produzem ficção de boa qualidade, nas listas mais lidas. É por isso que a newsletter de hoje é para quem tem interesse em conhecer algumas autoras que estão voando um pouco abaixo do radar dos grandes grupos editoriais do país, mas que estão pavimentando seu caminho para deixar sua marca na literatura nacional.
Fabiana Ferraz
Quando li o romance de estreia de Fabiana Ferraz, minha mandíbula caiu. Eu só ficava pensando: “como é possível que eu não conhecia essa mulher?”. No caso, eu estava selecionando originais para publicar no selo M0rgue. E eu pensei “tá, mas aqui não existe desafio nenhum para um editor”. O livro estava pronto! A Fabiana escreve com com a confiança de um Kurt Vonnegut, num estilo a la James Ellroy. O romance, Se Eu Morresse Amanhã, sai este ano e conta uma história noir ambientada no Rio de Janeiro dos anos 50, regada a whisky e com cheiro de cigarro.
Camila Fernandes Para ver do que Camila é capaz, basta ler seu conto A Noite Não Me Deixa Dormir, disponível na Amazon. Ela é muito dona do seu texto, que lemos sem aquela sensação de já ter visto aquilo em outro lugar, e com a certeza de que ela o escreveu com um sorriso malvado no rosto. Uma autora que já encontrou sua voz e seu ritmo e não tem medo deles.
Karine Ribeiro
A produção da Karine ainda é tímida, mas ela não tem pressa. Com uma postura ética, mas reservada, ela faz diversos trabalhos com textos, inclusive as revisões da linda Editora Wish, mas tem mão de escritora. Alguns dos seus trabalhos estão na Amazon e recomendo que confira: Pelo Tempo Que Nos Resta (escrito com a querida Valquíria Vlad), Clique, Má Influência, Hora de Dormir e Alice Está Morta.
Vivianne Geber
Faladora, consciente e divertidíssima, Vivianne não se encaixa no estereótipo de militar. A carioca trabalha para a Marinha, é apaixonada por literatura e tem uma escrita direta, mas cheia de nuances, e nenhum problema em usar todo o seu conhecimento técnico para tecer histórias de espionagem com personagens humanos e complexos. Seu thriller, Missão Pré-Sal 2025, foi lançado pela editora Record em 2015. A continuação, Missão Terra Firme, será lançada pelo recém-nascido selo policial M0rgue, da editora Lendari, este ano.
Lia Cavaliera
A Lia tem uma trajetória tímida no mercado. Leitora compulsiva com ótimas referências e abertamente engajada em cursos e grupos de estudo de escrita e publicação, ela tem, aos poucos, criado sua voz dentro do nicho de horror. Suas últimas obras mostram uma evolução surpreendente para sua idade e tudo indica que ela chegou para ficar. Confira A Casa Que Sobra e O Coração Que Deseja, na Amazon.
Larissa Brasil
Larissa voava indetectada pelos leitores de horror e suspense, até que inscreveu O Conto do Coronel Fantasma, na primeira edição do Prêmio ABERST de Literatura. Embora tenha sido selecionado como finalista, o conto não ganhou o prêmio, mas ela levou outro – o de revelação do ano. Desde então, Larissa ganhou milhares de leitores e boas avaliações do seu romance de estreia, A Garota da Casa da Colina, que eu recomendo.
Glau Kemp
O romance de horror Quando o Mal Tem um Nome, que realmente tem trechos de arrepiar, da carioca Glau Kemp, fez um sucesso estrondoso entre amantes do gênero, e colocou a autora no mapa. Ela participou, desde então, de diversos eventos literários e coletâneas, incluindo Creepy Pastas, da editora Lendari, que ela mesma organizou. Embora tenha passado uns tempos longe das redes sociais para regroup, a Glau tem projetos já engatilhados para os próximos anos.
Paula Febbe
Paula Febbe é cantora, psicanalista e escritora, com diversos livros publicados, como Mãos Secas com Apenas Duas Folhas, Metástase, Cartas no Corredor da Morte e Relato Inspirado em Orelhas. Com uma escrita transgressora, afiada e brutal, ela tece histórias rápidas que deixam os leitores abaladíssimos e viciados em suas palavras. Talentosíssima, sua obra é uma boa pedida para quem quer ler algo inteligente, corajoso e com voz própria. Mãos Secas com Apenas Duas Folhas foi finalista do prêmio ABERST ano passado. Já li todas as obras publicadas da autora e recomendo fortemente que você conheça seu trabalho.
Larissa Prado
Outra vencedora do Prêmio ABERST de revelação do ano, Larissa Prado tem um perfil reservado e sem muitas firulas. Como sua amiga, também citada aqui, Larrisa Brasil, ela mora em Goiânia e escreve textos obscuros com qualidade, e está criando um espaço bem merecido para si dentro do nicho. Vale a pena conhecer sua obra e ficar de olho nela.
Clara Madrigano
O último texto da Clara Madrigano que eu peguei para ler conseguiu me deixar tão entretida que eu queimei o almoço que estava fazendo. Com um estilo que tem amadurecido nos últimos anos, ela surpreende com Wildwood (na coletânea Mulheres vs. Monstros) e mostra coragem no conto Dodge. Clara tem participações em outras antologias e é publisher da Dame Blanche.
Conheça também autoras que pelo espaço limitado e outras questões técnicas, não estão nesta lista, mas merecem ser lidas: Dana Guedes, Jana Bianchi, Andrea Nunes, Larissa Siriani, Carol Mancini, Paula Bajer, Vera Lúcia Assumpção, Denise Flaibam, Úrsula Antunes e Babi Lacerda.
Indicações de posts: Lições dos Serial Killers #2: Amor próprio, internet e mulheres "loucas" 5 Dicas para ser um leitor melhor Perfil da autora Marcia Clark (sim, aquela, do julgamento do OJ SImpson)
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