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Como desenvolver seu estilo próprio de escrita

Se você já escreve ficção há um tempo, pode ser que esteja sentindo sua escrita muito genérica e parecida com a dos outros. Você provavelmente ainda não conseguiu um grande público ou venceu algum prêmio de destaque e quer ser notado por mais pessoas.


A seguir, vamos explorar um pouco dos problemas e soluções, focando em como você pode aperfeiçoar sua escrita e fortalecer seu estilo próprio.


Importante: este é um post para escritores de livros de ficção de gênero (suspense, horror, ficção científica, romance romântico, fantasia etc), ou seja, não se aplica a não-ficção.


Problemas mais comuns de estilo:


  • Escrita vaga;

  • Personagens sem carisma;

  • Personagens rasos;

  • Diálogos artificiais e expositivos demais;

  • Vícios de escrita.


Problemas mais comuns de estilo


Escrita vaga

Isso acontece quando não há nenhum tipo de especificidade em nada do que o autor escreve. O ambiente em que a ação acontece poderia ser qualquer um. Os personagens poderiam ser qualquer um.


A experiência do autor (grande repertório de leitura, estudo profundo de técnicas de narrativa e muita prática escrevendo) é o que o ajuda a entender o momento de ser abstrato e o momento de ser específico.


Abstrato: uma fruta

Específico: a maçã verde azeda que eu ganhei ontem do seu Miguel, quitandeiro


Um bom autor entenderá que alguns momentos precisam ficar marcados no leitor. Estes, precisam ser específicos.


Imagine um livro apenas com descrições abstratas:


"Paulo e eu jantamos num restaurante, depois entramos no carro dele e ele me levou para casa. Paramos na porta e ele se inclinou e me deu um beijo romântico."


Agora imagine um livro apenas com descrições específicas:


"Paulo e eu jantamos num restaurante chinês com cheiro de fritura, onde uma simpática mulher fez questão de explicar tudo o que havia no cardápio melado. Na volta, me senti enlatada no minúsculo carro dele, com o estofado desbotado e no qual encontrei latinhas vazias de refrigerante zero por todos os lados. Paramos na porta da minha casa com um chiar de pneus, já que ele quase ultrapassou o meu número. Quando ele se inclinou, no entanto, cheirando a bala de menta e com o olhar cintilando de nervosismo, e me beijou, tudo valeu a pena. O mundo parou, éramos só eu e ele, línguas quentes e corações acelerados."


No primeiro exemplo, temos uma escrita VAGA, sem graça, sem impacto emocional. Na segunda, temos uma narrativa pesada, arrastada, cansativa.


Um bom escritor sabe dosar, incluindo descrição sensorial, mas sem pesar demais:


"Paulo e eu jantamos num restaurante chinês com cheiro de fritura. Na volta, me senti enlatada no minúsculo carro dele, meio sujo e com o estofado desbotado. Quando paramos na porta da minha casa e ele se inclinou, cheirando a bala de menta e com o olhar cintilando de nervosismo, e me beijou, tudo valeu a pena. O mundo parou, éramos só eu e ele, línguas quentes e corações acelerados."


Personagens sem carisma

Seus personagens precisam ser críveis. O leitor precisa acreditar que ali há uma pessoa real, caso contrário, quando algo acontecer a esse personagem, ele não vai sentir nada.


Na tentativa de criar personagens realistas, muitos autores lhes dão qualidades e defeitos, manias e traumas, só que esquecem o mais importante: o carisma!


Carisma é aquela força magnética que torna o personagem delicioso de ler. E qualquer personagem pode ser carisma, não só o protagonista. O vilão, o par romântico, um personagem secundário...


Tá, Cláudia, mas como se escreve um personagem carismático?


Não vou falar que é fácil, mas com prática, você conseguirá.


Um personagem carismático deve ter algumas dessas características:

  • Uma voz própria específica, que pode ser elegante, rebuscada, sarcástica, cômica etc;

  • Um jeito só dele de se vestir;

  • Uma mania interessante;

  • Valores fortes e até contraditórios (um vilão que machuca todos, menos animais);

  • Uma forma interessante de se relacionar com os outros (ele pode ser frio, mas protetor; ele pode ser paquerador, mas no fundo nunca se relacionar com ninguém);

  • Pelo menos duas qualidades fortes que as pessoas admiram (geralmente aquelas raras de encontrar no mundo real), como lealdade, honra, sinceridade inegociável, altruísmo, honestidade.





Personagens rasos


Eu já li livros em que não se sabia nada sobre o personagem principal fora seu primeiro nome, idade e profissão. Como consequência, eu não conseguia me conectar com a história.


Personagens não precisam todos ser absurdamente profundos, no entanto. Você não precisa responder 1.000 perguntas sobre cada personagem da sua história antes de começar a escrever. Mesmo assim, você precisa desenvolver alguns personagem que pareçam REAIS ao leitor.


Nem tudo o que você sabe sobre ele precisa entrar no livro! Mas há aspectos da sua vida e personalidade que o autor precisa conhecer.


  • Qual é seu passado? Cresceu em uma família com amor ou sem?

  • Qual é sua maior dor?

  • Qual é seu maior sonho?

  • Do que ele tem medo?

  • O que faz ele rir?

  • O que lhe dá raiva?

  • Como se relaciona com aqueles ao seu redor?

  • Qual é sua relação com seu trabalho?

  • O que tira seu sono?

  • Como reage quando está com raiva?

  • Quais são suas crenças?

  • O que ele nega sobre si mesmo?

  • O que o motiva?


Diálogos artificiais e expositivos demais

Diálogos precisam ser combativos, cheios de nuance, mostrar a personalidade e os sentimentos do personagem, e claro, parecerem naturais.


É muito comum em minhas leituras críticas me deparar com diálogos robóticos, explicativos, formais demais. Outro erro comum é dar a mesma voz para todos os personagens. Cada pessoa fala de um jeito diferente, mesmo as que têm a mesma idade e cresceram na mesma casa, por exemplo.


Segue uma checklist para você mesmo auditar seus diálogos:



  • Cada personagem tem seu jeito de se comunicar. Isso é sutil e natural.

  • Diálogos são compostos por afirmações, negações e perguntas.

  • Alguns diálogos são interrompidos.

  • Há provocação em alguns diálogos.

  • Eles entregam informação de forma natural. Evite o "como você sabe..."

  • A forma como o personagem fala é afetada pelas suas emoções.

  • Diálogos não acontecem num espaço em branco, ou seja, enquanto escreve os diálogos, você também está ambientando, fazendo os personagens me movimentarem, pensarem, sentirem.

  • Diálogos soam naturais, ou seja, você não está usando a norma culta da língua, e sim a língua falada, coloquial, sem exageros

  • Os personagens falam de acordo com sua faixa etária, nível de escolaridade, vocabulário, profissão, geração etc. Quando não o fazem, há um motivo por trás.

  • Pare de repetir o nome do interlocutor o tempo todo. No mundo real, não falamos a todo momento o nome da pessoa com quem estamos conversando.

  • Verbos dicendi: menos é mais. Use-os o mínimo possível. Quando precisar usar, fique com os "invisíveis" falou, disse e perguntou. Esqueça os complicados e definitivamente não use verbos redundantes. Por exemplo: "quis saber". Se a pessoa perguntou, obviamente ela quer saber. "Exclamou". Se há um ponto de exclamação, esse verbo é inútil. "Explicou"... pelo que o personagem fala, entendemos que é uma explicação. "Ameaçou", pelo o que é dito, entendemos que é uma ameaça...

  • Use travessões. Não há motivo para reinventar a roda. "Eu prefiro aspas". Ok, mas saiba que aspas são usadas na língua inglesa, não sendo "naturais" em português. A menos que exista um motivo incrível para fazer isso... por que fazer?


Vícios de escrita


São aquelas palavras ou construções que o autor repete exaustivamente e sem intenção. Palavras ou construções que usamos sem nem perceber.


Veja a lista abaixo e confira se seu livro tem um excesso dessas expressões. Verifique a necessidade delas na oração, ou seja, são necessárias ou redundantes?


Lista de vícios e clichês


  • Com força (use um verbo forte, como "bateu". Quando você escreve "bateu com força", é redundante)

  • Completamente/totalmente (ex: "completamente nua". Se você escrever só "nua" o impacto é bem maior)

  • A seguir/depois disso (quase sempre é redundante)

  • Pensou consigo mesmo (não tem como pensar com outra pessoa)

  • Ambas (as mãos), ambos (os pés)

  • começou a... (quase sempre é melhor colocar só o verbo. Ex: "correu" em vez de "começou a correr")


Encontre os clichês e reescreva de forma mais criativa:


  • o mais rápido que pôde/conseguiu

  • frio na espinha

  • andou de um lado para o outro

  • lágrima solitária

  • chorou copiosamente

  • sangue ferveu

  • mais do que o normal/mais do que deveria

  • coque desleixado

  • com desespero (desespero é uma emoção forte demais e não deve ser contada e sim construída)

  • pulou de susto

  • com toda a sua força

  • suspirou (quase nunca faz diferença numa narrativa e é usado em excesso)

  • o coração pulou uma batida


Como posso trabalhar no meu estilo?


Estilo é para poucos e é resultado de muita leitura, estudo e escrita. Essa santíssima trindade se autoalimenta. Quanto mais você estuda, mais facilmente enxerga o uso das técnicas no que lê. Quanto mais você lê, mais conhecimento tem para escrever. Quanto mais escreve, mais interioriza a teoria.


Alguns passos para você trabalhar no seu estilo próprio:


  • Leia com intencionalidade (separe livros para ler como um escritor, lentamente, grifando e analisando o uso de técnicas);

  • Estude as técnicas narrativas. Não existe isso de querer escrever em estudar;

  • Pratique muito, escrevendo sempre, mesmo se forem exercícios;

  • Aprenda a editar seu próprio texto (fique de olho nos vícios descritos acima);

  • Use estruturas diferentes de frases;

  • Anote sempre que encontrar palavras e verbos que chamarem sua atenção ou quando são usados de forma criativa;

  • Crie um documento que você vai nutrir com palavras, estruturas e ideias diferentes;

  • Estude exaustivamente o "Mostrar, não contar".

  • Estude tropos e use-os criativamente na sua escrita.


Se este post te ajudou, imagina o que mais de 130 videoaulas, mais dezenas de exercícios, exemplos e listas, além de um grupo de apoio de autores, poderá fazer pela sua escrita. Agora imagina que em 4 anos, o Curso BOLD já reuniu mais de 300 alunos e apenas avaliações 5 estrelas? Ficou curioso(a)? Saiba mais aqui.

 
 
 

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