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Foto do escritorCláudia Lemes

O que são memórias falsas e por que são perigosas na resolução de crimes?


(Post originalmente publicado na newsletter Crime Scene Lovers)


Eu me lembro de ter escrito, no livro Inferno no Ártico, que não podemos confiar completamente nos relatos de testemunhas oculares. E me lembro que um editor fez uma observação ao editar aquele capítulo, perguntando “como assim, é claro que podemos”. Eu acabei não tendo a chance de explicar por que coloquei aquilo no livro, mas quem leu Inferno no Ártico sabe que há muitas referências à falta de confiabilidade quando o assunto é memória. Eu havia acabado de assistir diversas palestras TED sobre o assunto, com informações sobre memória que foram corroboradas por dois cursos que eu estava fazendo, sendo o melhor deles um curso à distância pelo programa Harvard EdX chamado “The Psychology of Criminal Justice”. Mas hoje eu me pergunto se as informações incluídas em Inferno no Ártico sobre memória fizeram sentido para os leitores. E decidi que o assunto é bom demais para não ser abordado na Crime Scene Lovers. Nesta newsletter eu vou indicar duas TED Talks sobre o assunto que mudaram por completo minha forma de reagir às minhas lembranças e me fizeram confiar menos nos relatos dos outros sobre acontecimentos importantes. A primeira indicação é o trabalho de Elizabeth Loftus, autora do livro Eyewitness Testimony (Harvard University Press, 1996). Loftus é expert em memórias falsas e nesta Ted, fala sobre pessoas inocentes condenadas por causa de falsas lembranças de testemunhas, e explica como isso pode acontecer.


“Em um projeto nos Estados Unidos foi coletada informação sobre 300 pessoas inocentes, 300 réus que foram condenados por crimes que não cometeram. Eles passaram 10, 20, 30 anos na prisão por esses crimes, e agora testes de DNA confirmaram que eles são, na verdade, inocentes.” - Elizabeth Loftus

Ela ressalta que muitas pessoas acham que a memória funciona como um gravador, e deixa explícito o perigo desta crença falsa para o sistema judicial.


“A memória funciona como uma página da Wikipédia. Você pode visita-la e modificá-la, mas outras pessoas também.”

Assim com Elizabeth Loftus, o neurofisiologista forense Scott Fraser também conta um caso em que uma pessoa inocente foi acusada de um crime com base em memórias falsas de uma testemunha. Na sua Ted Talk, Why Eyewitnesses Get it Wrong, ele explica que o cérebro não tolera espaços em braço.

“O cérebro abomina o vácuo. Na melhor das condições de observação, na melhor delas, nos somente detectamos, codificamos e guardamos em nossos cérebros pedaços da experiência completa na nossa frente, e elas são guardadas em partes diferentes do nosso cérebro. Então, quando é importante para nós sermos capazes de relembrar nossas experiências, temos um arquivo incompleto, parcial, e o que acontece? Inconscientemente sem nenhum tipo de processamento deliberado, o cérebro complementa com informação que não estava lá.”- Scott Fraser

Embora o começo desta TED possa parecer mais do mesmo, vale a pena assistir até o final e ver a reencenação do crime tal como é mostrada pelo perito. A resolução do caso é emocionante. A palestra é um apelo para levar a ciência para dentro dos tribunais.

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