O seguinte artigo foi livremente adaptado e traduzido do artigo original da Masterclass, que você pode conferir clicando no link. Eu traduzi, incluí algumas informações e tomei algumas liberades com o texto para facilitar a compreensão e adequação ao escritor brasileiro. No final, incluí algumas dicas adicionais que sinto que faltaram no texto original.
Espero que esse trabalho ajude você a tomar as melhores decisões para seu livro e te motive a escrevê-lo.
Tipos diferentes de livros infantis
À medida que a leitura adulta está sendo direcionada para artigos curtos em sites e redes sociais, o mundo literário tem se alinhado mais com um de seus públicos mais duradouros: as crianças.
A publicação de livros infantis continua robusta no mundo. Ou seja, há uma porcentagem maior de leitores regulares entre as crianças do que entre os adultos.
Além de um público abundante, temos uma imensa variedade de tópicos que podem ser abordados por autores de livros infantis. Desde fantasia até mistério e comédia, os mesmos gêneros que os adultos leem muitas vezes são atraentes para as crianças. Como tal, muitos autores aspirantes buscam começar suas carreiras literárias por livros infantis.
Seguem algumas informações importantes a serem consideradas se você pretende publicar um livro infantil.
5 Tipos Diferentes de Livros Infantis
Os livros infantis são frequentemente organizados por faixa etária:
Livros ilustrados: Este tipo de livro é tipicamente escrito para crianças de alguns meses de idade até os 4 anos. À medida que a idade do leitor aumenta, um livro ilustrado aumenta sua contagem de palavras. Livros para bebês tendem a ter 300 palavras ou menos. Quando as crianças estão na pré-escola, elas são capazes de lidar com até 1.000 palavras e podem ser capazes de fazer um pouco de leitura rudimentar por conta própria.
Livros para leitores iniciantes: Estes livros são direcionados a crianças de 5 a 7 anos. Os leitores iniciantes estão nos primeiros anos do ensino fundamental — jardim de infância, primeiro e segundo anos. Um foco principal dessas séries é ensinar a leitura independente, e esses livros são projetados para serem lidos sem a ajuda de adultos. Geralmente têm uma boa quantidade de ilustrações. A contagem de palavras desses livros pode variar de 1.000 até aproximadamente 5.000.
Livros de capítulos: Às vezes chamados de livros para jovens leitores, os livros de capítulos são, como o nome sugere, subdivididos em capítulos, feitos para serem lidos em mais de uma sentada. Eles são direcionados a crianças na faixa etária de 6 a 9 anos. Tendem a ter um limite de cerca de 10.000 palavras e introduzem vocabulário progressivamente desafiador.
Livros infantojuvenis: Esses livros são para alunos do final do ensino fundamental e início do ensino médio — pense em idades de 9 a 12 anos. Um passo à frente dos livros de capítulos, tendem a ter vocabulário mais desafiador, poucas ilustrações e até 60.000 palavras. Crianças dessa idade podem apreciar humor, mistério e até pequenos sustos. No Brasil, o termo infantojuvenil é muito abrangente, desde os 4 aos 18 anos. Aqui, escolhi o termo por achar mais adequado ao uso prático. Pense na Série Vaga-Lume como referência nacional.
Romances para jovens adultos: Romances YA são direcionados a adolescentes mais velhos e até adultos. Tendem a ter protagonistas adolescentes, mas muitos personagens adultos. Os gêneros se expandem ainda mais aqui, incluindo fantasia e ficção científica. Romances YA podem ultrapassar 100.000 palavras.
7 coisas a considerar quando pensar em escrever um livro infantil
Ao começar a escrever seu primeiro livro infantil, é importante aprender com a sabedoria dos autores de livros infantis já estabelecidos. De muitas maneiras, os desejos dos jovens leitores imitam os dos leitores adultos, mas nem todos os autores adultos são igualmente bem-sucedidos ao tentar escrever para crianças.
Aqui estão algumas coisas a considerar antes de escrever um livro infantil:
Não se preocupe com lições morais. As pessoas acham que tudo escrito para crianças precisa ter algum tipo de lição moral, mas é bom lembrar que alguns livros podem ter como objetivo apenas o entretenimento.
Aliás, crianças são espertas e podem não gostar de livros com efeito moralizante muito óbvio, associando a leitura à lição de moral e "bronca". Melhor apresentar uma boa história do que ser panfletário. Os adultos têm a liberdade de ler o que quiserem. Por que as crianças não podem ter o mesmo privilégio de ler apenas por diversão?
As crianças querem ser entretidas. As crianças querem ser entretidas, e você está competindo com filmes e tecnologia de uma maneira sem precedentes. Você precisa escrever algo que elas queiram ler tanto quanto assistir a algo no iPad. Aborde seu livro com isso em mente, e você pode acabar fazendo uma criança se viciar na leitura.
Conecte-se com seu público-alvo. Para entreter, você precisa estar sintonizado com seu grupo etário-alvo. Livros infantojuvenis são geralmente direcionados a crianças de 7 a 12 anos, e a ficção para jovens adultos é voltada para adolescentes. Curiosamente, um grande número de adultos agora lê romances YA, o que também é algo a se considerar.
As crianças gostam de ler sobre crianças que são um pouco mais velhas que elas. A maioria dos personagens principais nos romances Goosebumps, por exemplo, são crianças de 12 anos, e os livros são voltados para crianças um pouco mais novas. Mas crianças também querem se conectar com o protagonista do seu livro, que deve ter idade bem próxima delas.
Preste atenção às crianças. Se você tem filhos, preste atenção no que eles e seus amigos acham interessante. Se você conhece professores, converse com eles. Pergunte aos seus amigos e familiares sobre seus filhos e o que eles gostam de fazer. As crianças são inteligentes e podem perceber imediatamente se algo que estão lendo está fora de sintonia. Não subestime a inteligência delas.
Se você conseguir, as crianças se tornam os melhores fãs. As crianças têm um desejo profundo de viver dentro dos livros que leem. Crie um mundo para o qual elas mal podem esperar voltar e você terá desenvolvido um público cativo difícil de replicar entre os adultos.
Mantenha suas histórias cheias de frases curtas e descritivas. As crianças não precisam aprender novas palavras ou lutar para entender um trecho. Não há nada que as impeça de continuar lendo até o próximo capítulo. Portanto, esteja ciente do nível de vocabulário dos seus leitores. A diferença entre a capacidade de leitura de uma criança de 10 anos e uma de 15 anos é muitas vezes surpreendente, e você precisa escrever de uma maneira que as crianças achem sua história interessante e acessível.
Dicas para escrever um livro infantil
Uma boa história infantil é possibilitada pelos instintos criativos do autor e seu talento natural para contar histórias. Mas qualquer pessoa, não importa quão talentosa, pode se beneficiar dessas dicas para escrever um ótimo livro infantil:
Para escrever para crianças, você deve pensar como uma criança. Os tópicos que podem interessar a você como adulto podem não ser tão atraentes para um jovem leitor. Existem duas maneiras de acessar a mentalidade de uma criança. Uma é relembrar suas próprias experiências ao ler literatura infantil. A outra é procurar crianças em sua vida e fazer perguntas a elas. As respostas serão importantes, já que elas são seu público-alvo.
Leia a literatura infantil de outros autores. Embora você não queira que seu trabalho seja derivado, você deve entender o que funciona. Procure o trabalho de grandes autores estabelecidos e novos bestsellers para seu público. Veja o que funciona na escrita deles, bem como coisas que podem ser melhoradas. Foque em um vocabulário apropriado.
Um bom livro infantil desafiará um jovem leitor a melhorar seu vocabulário, mas não o sobrecarregará com tantas palavras novas que ele não consiga seguir a história. Em caso de dúvida, erre pelo lado da ambição. Você pode se surpreender ao reler clássicos infantis como "A Menina e o Porquinho" de E.B. White e ver quão avançado é o vocabulário.
Tenha leitores betas crianças. Todos os livros passam por revisões, do primeiro rascunho à cópia final publicada. Quer você planeje seguir a rota da publicação tradicional ou da autopublicação, você deve seguir esse processo para o seu próprio livro.
A chave, no entanto, é incluir crianças reais no seu processo de revisão. Peça para elas lerem os rascunhos do seu livro e oferecerem sugestões. Elas ficarão encantadas em compartilhar suas opiniões e, sem dúvida, oferecerão feedback que nenhum adulto poderia ter fornecido.
Lembre-se também de que, assim como um adulto, uma criança leitora é apenas uma pessoa com uma opinião. No fim das contas, seu livro é seu, e todas as decisões de edição passam por você. Usando uma combinação de feedback de crianças, feedback de adultos e seus próprios instintos, você será capaz de fazer do seu manuscrito o melhor livro possível.
Mais algumas dicas:
Não demore muito para começar a história. Hoje em dia você tem poucas páginas para capturar a atenção do leitor, principalmente o leitor mirim. Não comece o livro falando sobre o clima, a chuva ou algo distante. Já comece apresentando personagem e conflito.
Brinque com simbolismo: personagens de livros infantis têm características mais acentuadas, menos sutis do que personagens de livros adultos, porque as crianças tendem a determinar o que cada pessoa representa: a Bia é chorona, o Professor Paulo é bravo, a Coordenadora Lívia é gentil, o Farmacêutico Plínio me dá pirulitos se eu não choro na vacina e o Lucas é meu melhor amigo! Tenha personagens que simbolizam temas como medo, proteção, amizade, justiça e ameaça.
Evite clichês antiquados como "era uma vez..." Até porque hoje tudo se trata de imersão. Era uma vez é uma forma imediata de distanciar seu leitor da história.
Use e abuse de diálogos.
Livros recomendados para estudo:
Chapeuzinho Amarelo - Chico Buarque e Ziraldo
Quem soltou o Pum? - Blandina Franco
A Bolsa Amarela - Lygia Bojunga
O Diário de um Banana - Jeff Kinney
Coraline - Neil Gaiman
O Menino Maluquinho - Ziraldo
A Droga da Obediência - Pedro Bandeira
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