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5 Dicas para Escrever Ficção Melhor

Com um novo ano chegando, tenho certeza que muitos de nós fizeram promessas de escrever mais, passar menos tempo nas redes sociais e publicar um livro ou dois. Para as cinco dicas abaixo, tentei ficar longe do óbvio, mas escolhi algumas que considero essenciais para qualquer escritor iniciante. Talvez até ajude vocês já têm alguns anos de carreira.


1- Nunca é cedo demais para pensar em estilo próprio.


No final de tudo, o que vai distinguir um autor vai ser sua voz.


A má notícia: Quando estamos começando, tentamos emular o que já lemos e neste caminho, chegamos a uma bifurcação que leva a um de dois destinos: soamos como uma imitação barata do nosso autor preferido ou acabamos criando textos esqueléticos, vazios de estilo e brilho. Completamos as frases de forma automática, sem pensar no interminável buffet de palavras que temos a nosso dispor, então as coisas saem assim: “Ela correu o mais rápido que conseguiu” e “Ele usou toda a sua força” (quem nunca?). O oposto também acontece com frequência: a pessoa acha que estilo próprio é usar as palavras mais complexas que consegue encontrar num dicionário. Isso não é estilo, é um atestado de incompetência.


A boa notícia: Você não precisa fazer mágica. Tudo é questão de identificar, durante a leitura do que você escreve, os trechos mais vívidos, as frases mais afiadas, os momentos em que você pensa “uau, eu fiz isso?” e procurar replicar, com certa frequência, o mesmo tipo de estrutura e sagacidade. No começo você vai ficar meio confuso, mas em algum momento isso se tornará parte natural no seu fluxo de escrita.


2- Faça bancos de palavras


Quando eu me planejava para escrever Inferno no Ártico, eu sabia que haveria momentos em que precisaria passar uma sensação de frio intenso, e em outros, uma ambientação acalentadora, quase imperceptível, para a cena. Isso porque queria que em alguns espaços e na presença de outros personagens, o leitor se sentisse desconfortável, e nas lembranças da protagonista (em especial sobre sua vida no Brasil), o leitor fosse embalado e acariciado. Para fazer isso sem pesar demais a voz do narrador, fiz dois bancos de palavras, que chamei de “palavras quentes” e “palavras frias”. Elas não eram necessariamente relacionadas a temperatura, veja bem, e sim objetos, cheiros e texturas que no meu imaginário, eram relacionados aos dois extremos. Durante a criação das cenas, eu salpicava algumas dessas palavras para criar o efeito desejado.



A má notícia: Não há, se você usar seu bom-senso.


A boa notícia: Bancos de palavras podem ser relacionados a tudo, para conseguir qualquer efeito, e facilitam o processo de escrita. Visualize uma cumbuca de palavras soltas do lado do seu computador que podem te ajudar quando você trava numa descrição, por exemplo. Seus bancos podem ser básicos (palavras para descrever sentimentos, palavras da natureza, palavras sobre iluminação) ou específicos (palavras da indústria têxtil, palavras para descrever cabelos, palavras para usar na descrição de carros). Divirta-se!


3- Deixe seu leitor respirar


Nem o mais intenso thriller mantém a tensão no máximo o tempo todo. O leitor precisa de altos, mas eles não existem sem baixos.


A má notícia: para não fazer o nariz do seu leitor sangrar, mesmo as cenas mais tranquilas precisam ter certo grau de tensão. Mas favoreça os conflitos internos e os eventos interpessoais em cenas mais calmas, em vez do grande problema da trama.


A boa notícia: os momentos de respiro são excelentes oportunidades para desenvolver e aprofundar relacionamentos entre personagens, trazer para a história, de forma natural, backstories, e trocar informações relevantes para a trama. Os melhores lugares e momentos para as cenas de respiro são hospitais, hotéis/motéis, esconderijos/safehouses, templos religiosos, viagens de trem, carro ou avião e casas/apartamentos, em instantes onde os personagens precisam esperar algo, fugir de algo, ir ao encontro de algo ou se curar de alguma coisa. Eu chamo esses momentos de “time-out” e no outline, tento inseri-los em momentos estratégicos para potencializar os picos da montanha-russa emocional da obra.


4- Crie pessoas, não personagens


Você pode ter um estilo confiante e maduro, uma trama criativa e bem arquitetada, mas se seus personagens não parecerem pessoas reais, sua história não vai convencer. Fale o que quiser do Stephen King, mas ele conseguiu se safar com elementos bizarríssimos e muitos finais mal-acabados por dois motivos: ele é um mestre no trabalho com palavras e ele sabe criar personagens como ninguém.


A má notícia: pessoas são complexas pacas. Os ingredientes que compõem seres humanos: egoísmo, ética, medo, ganância, negação, preguiça, ad infinitum, precisam ser muito bem balanceados na sua composição de personagem para que não fiquem hiper-antipáticos ou maçantes.


A boa notícia: Na minha opinião, não existe nada mais divertido do que criar personagens. Comece tendo um esboço da trama em mente e pensando em quantos personagens grandes e pequenos você vai precisar para compor aquela história. Escolha traços de personalidade compatíveis com as ações e reações que eles vão precisar ter para mover a trama para a frente. Responda a questionários (online e em guias de escrita você encontra muitos, mas recomendo o questionário de Santa Adrenalina: Um Guia Para Quem Quer Escrever Thrillers) sobre a infância, valores, características físicas etc. dos três maiores personagens. Pense em todas as formas de manifestação de quem são: o que vestem, onde vivem, como falam, o aspecto de suas unhas... Durante a escrita, faça-os lembrar de coisas corriqueiras do passado, mostre quem são pela forma como os outros os enxergam, dê a eles vozes próprias, trejeitos, qualidades redentoras, sonhos secretos e segredos humanos.


Meu banco de humanidade preferido para inspiração? Ler os segredos de pessoas reais no blog Post Secret.


5- Respeite o leitor


Além de manter-se atento para não subestimá-lo, responda honestamente à pergunta: Estou oferecendo algo novo ao leitor?


Meus amigos editores se queixam muito de originais que até que são bem escritos, mas que sempre dão a impressão de um livro que já foi lido antes. Entenda que não estou falando de contar histórias que nunca foram contadas, porque todas as histórias já foram contadas de uma forma ou outra. O que estou dizendo é que sem estilo próprio, sem personagens bem desenvolvidos, sem escolhas “fresh” (fresh = novo + refrescante + respirável + intrigante) de diálogos, eventos, construção de frases, etc, todos os livros se parecem com todos os livros. Você precisa ter um elemento único, um DNA de escritor, por assim dizer, para que a leitura da sua obra seja recompensadora ao leitor e para que você consiga se destacar.


A má notícia: São pelo menos décadas de leitura e alguns anos de escrita para conseguir acertar a mão.


A boa notícia: Esse não é o motivo pelo qual está escrevendo? Porque ninguém escreveu antes o que você sempre quis ler?


Saiba mais:


Para mais dicas, leia Santa Adrenalina, da editora Lendari, ou faça parte do meu grupo de estudos, VIP (vídeo-interação-profissionalização), com novas turmas abrindo a cada trimestre. A turma 2 começa em 1 de Janeiro, e ainda há 5 vagas. Para mais informações: claudoooca@gmail.com.

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