Saiba tudo o que precisa para escrever livros de crime e thrillers
A vida do autor nacional é sofrida, mas a vida do escritor nacional de thrillers e obras de crime é ainda mais tensa, porque simplesmente não encontram informações sobre como as investigações criminais são feitas no Brasil.
Autores gringos têm uma baita vantagem (além de ficarem ricos com sua profissão, claro) quando o assunto é pesquisa. A polícia, em especial a norte americana, é muito aberta e permite até que escritores acompanhem policiais em suas viaturas, por exemplo. Além disso, informações sobre procedimentos forenses, investigativos e a rotina policial são abundantes. Basta o autor querer pesquisar.
Nossa realidade
Já aqui, a polícia é fechada e não encontra-se material algum online que ajude um autor em busca de dados sobre a polícia brasileira para começar suas pesquisas. Como resultado, as obras saem com cara de americanizadas e apresentam erros bizarros, que os próprios policiais criticam (insira aqui o gif do John Travolta perdido).
Quando estava pesquisando para escrever meus thrillers ambientados em Las Vegas, Alasca e Miami, eu me diverti horrores com a pesquisa sobre necropsia, códigos 10, hierarquia da polícia gringa... mas quando fui escrever A Segunda Morte de Suellen Rocha e Quando os Mortos Falam, obras que precisavam mostrar procedimentos, jargão e técnicas de investigação tal como acontecem no Brasil, percebi a escassez de material.
Acabei tendo que estudar manuais para concurseiros, e para cada pergunta respondida, surgiam mais centenas. Foi então que pensei: caraca, alguém precisa urgentemente dar um curso para escritores, e precisa ser alguém da polícia!
Esse curso agora existe, o Crime-lab. Antes de falar dele, no entando, vou colocar algumas dicas para escritores começarem suas pesquisas, vem comigo:
Nossa polícia é dividida entre Polícia Administrativa e Polícia Judiciária
A Polícia Administrativa é uma polícia de prevenção e tem como principal função geral impedir que crimes aconteçam. Ela tem atuação visível pelos membros da sociedade, usando uniforme e circulando em veículos fáceis de reconhecer. Essas polícias são a Polícia Militar, a Polícia Rodoviária Federal, a Polícia Ferroviária Federal e o Corpo de Bombeiros Militar.
Já a Polícia Judiciária é a polícia repressiva, ou seja, aquela que age depois que o crime foi cometido, com atividades investigativas, cujo trabalho será usado pelo Poder Judiciário em seus julgamentos. Lembre-se que, no entanto, a Polícia Judiciária faz parte do Poder Executivo. Essas polícias são a Polícia Civil, no nível Estadual e a Polícia Federal, no nível Federal.
E as investigações?
Você já deve ter visto uma série policial americana: o detetive e seu parceiro visitam a cena do crime e circulam livremente por ela, recebendo informações de peritos enquanto comem donuts. No mesmo dia, conversam com o médico legista, olhando para um corpo limpinho e coberto com um lençol num espaço amplo, limpo e clínico. Um dos detetives jura que não vai descansar até o caso ser resolvido. Em horas eles têm os relatórios de toxicologia ou balística em mãos e podem prosseguir para conversar com testemunhas e suspeitos, a par de todos os vestígios que foram encontrados na cena do crime. Eles vão levar sua teoria ao chefe, que vai ouvir atentamente e parabenizá-los pelo trabalho, autorizando alguma coisa a mais e fazendo uma piadinha sobre a gravata de um dos detetives. Meus amigos... esqueçam tudo isso.
No Brasil a coisa é muito mais burocrática e compartimentalizada. A perícia faz o trabalho dela, o médico legista também, e o delegado coordena o inquérito policial junto a equipe de investigadores e agentes. Os investigadores raramente conversam com a perícia ou legista, por exemplo, embora isso não seja proibido.
É o delegado que vai dizer aos investigadores o que fazer, emitindo ordens de serviços das diligências, esperando que sejam cumpridas, e depois lendo os relatórios para elucidar a materialidade e autoria do crime. Os investigadores trabalham em muitos casos ao mesmo tempo. Como os relatórios da perícia levam cerca de 40 dias para serem entregues (em teoria, na prática, levam meses), o inquérito foca principalmente em entrevistas com testemunhas e conhecidos da vítima, assim como imagens de câmeras de segurança, contas de telefone etc.
Uma entrevista leva a outra pessoa de interesse e assim por diante. O normal, sem muitos dados de CSI, é estudar a vida pregressa da vítima, analisar suas últimas 24 horas de vida e elaborar teorias acerca do motivo e autoria. A necropsia é rápida, pela alta demanda de corpos, e algo que acredite, arrepia até os mais calejados.
Quantos casos são elucidados?
Quando um caso não elucida o suficiente sobre um crime para que o MP inicie uma Ação Penal, a investigação pode ser prorrogada ou arquivada. Você quer alguns números? Bora lá: Entre o ano em que eu nasci (1979) e 2011, mais de 1.1 milhão de pessoas foram assassinadas no Brasil. O número de homicídios cresce de forma desproporcional ao crescimento da população – enquanto o índice de crescimento da população nesses anos foi de 62%, o crescimento no número de homicídios foi de 366% anualmente.
Outros dados
O atendimento às pessoas vítimas de armas de fogo custa, para o sistema público de saúde, cerca de R$ 140 milhões por ano – a maioria das vítimas são homens entre 15 e 24 anos, não brancos, de classe baixa. No nosso Sistema Judicial Criminal, a elucidação dos homicídios é 8% em nível nacional. Sim, menos de 10% dos homicídios levam a um autor. Para comparação, veja que no Reino Unido e na França a taxa é de 90 e 80% respectivamente; nos EUA é 65% e a Argentina, 45%. Num nível estadual, a taxa de elucidação de crimes no RJ é de 14% e em São Paulo, 22%.
Mas por que temos tantos problemas?
A Secretaria de Segurança Pública destaca, como principais obstáculos para a elucidação de crimes: "a precariedade das condições de trabalho e da infraestrutura das polícias civis e perícia criminal e os baixos níveis de articulação institucional entre os órgãos que compõem o Sistema de Justiça Criminal. Além disso, temos um processamento judiciário lento e pouco eficaz." Além disso, não podemos esquecer o baixo efetivo: menos policiais do que precisávamos ter, para dar conta de todo esse trabalho.
Resumo
Esquece o que você vê na TV. Além de melhor remuneração e condições de trabalho, melhor infraestrutura e treinamento, seriam necessárias mudanças culturais profundas para que nossa polícia alcançasse taxas parecidas com as européias, por exemplo. O Brasil é um país enorme e complexo, e apontar apenas um culpado ou apenas uma solução para qualquer problema relacionado a segurança pública seria simplista e irresponsável. Portanto, deixo a análise a vocês, e volto ao meu mundo ficcional, onde as esperanças que um crime seja resolvido são muito maiores.
Como posso descobrir mais para poder escrever um livro realista?
Que tal ter aulas com um delegado de homicícios e instrutor da Academia de Polícia? E se eu mencionar que ele também é formado em letras e é escritor? E que tal ter aulas com uma escritora e roteirista de ficção criminal e fundadora da Associação Brasileira de Escritores de Romance Policial, Suspense e Terror? Esse curso já existe e já está no ar. O melhor de tudo é que você pode estudar quando, onde e como quiser, já que todas as aulas são gravadas.
O curso Crime-lab tem 46 aulas em vídeo, mais material extra: apostilas exclusivas, textos complementares, links externos para vídeos e podcasts, e quizzes para que você possa conferir seu progresso. O curso é dividido em 2 partes: as aulas sobre a polícia e as aulas de narratologia. Ao final, você recebe um certificado de conclusão.
Veja a grade completa do curso e inscreva-se para começar a estudar hoje, neste link:
O valor do curso pode ser parcelado em até 12x sem juros e você ainda recebe o link para participar do grupo de WhatsApp.
E o curso é ótimo, estou adorando.😍