A Segunda Morte de Suellen Rocha é um livro sobre pessoas violentas... inclusive mulheres
Eu escrevi A Segunda Morte de Suellen Rocha, na época intitulado O Santuário, em 2017, logo depois da publicação de Inferno no Ártico. O livro desde então percorreu alguns caminhos sinuosos antes que eu tomasse as melhores decisões editoriais para ele. Ele foi para agentes literários que o pediram, mas não leram e foi para as mãos de uma editora gigante, que o amou e lutou por ele - mas não pôde publicá-lo devido à crise. Desiludida, eu deixei o romance "na gaveta" por mais de um ano. Estava bem insegura, pois o livro havia ficado muito diferente dos outros que eu já havia escrito.
Mas a história do Hamlet (essa tá no meu Insta, mas em breve eu faço um post sobre ela) me ensinou que boas ideias precisam ir para o mundo - e rápido, antes que outra pessoa as execute. Cogitei lançar o livro de forma independente de novo, afinal, tem dado certo para mim. Pensei em lançar por uma das editoras com as quais tenho um bom relacionamento, mas também não me parecia o ideal. Então eu tomei uma decisão que pela primeira vez focava em atingir novos públicos, que vou anunciar no começo do ano que vem.
A verdade é que vocês, leitores, não estão nem aí para decisões editoriais (hehe) e querem saber da história. Então vamos ao motivo de você ter decidido ler este post.
Fato 1- O livro não é sobre violência, é sobre pessoas violentas
Por mais que eu sempre tenha mostrado o lado podre de todos os meus personagens, o mal real nos meus livros anteriores estava concentrado em figuras antagônicas (oi Tony, Fabrício, Nathan, Phoenix, Valentim...). Os heróis eram falhos, mas os vilões eram vilões, mesmo que uns fossem mais carismáticos do que outros (eu sei que vocês estão pensando em todos os vilões que não mencionei para evitar spoilers). Em A Segunda Morte de Suellen Rocha, a linha é mais tênue. Todos os personagens têm um crime em seu passado e potencial para cometer outros. E eles estão inseridos em todas as camadas da sociedade: mães, jornalistas, delegados, investigadores, médicas, religiosos, prefeitos e empresárias. Todos têm algo a esconder.
Fato 2- Os assuntos são espinhentos: religião, política, aborto... mas não é um livro ativista
Livros que levantam bandeiras são importantes, mas não era isso que eu queria fazer aqui. Todos os temas polêmicos são abordados pelo viés mais realista possível, e pelos pontos de vista dos personagens. Portanto, as maneiras de enxergar igrejas evangélicas, policiais corruptos, políticos desonestos, crimes violentos, estupro, prostituição e aborto são vistas por diversos prismas, com cada personagem oferecendo sua história e convicção de maneira distinta.
Fato 3- É meu primeiro romance que se passa inteiramente em solo nacional
Praticamente todos os meus contos são ambientados no Brasil, mas meus romances se passam em outras terras, já que sempre gostei de levar o leitor a cenários exóticos e desconhecidos. Um Martíni com o Diabo não faria sentido se não fossem na Las Vegas dos ano 90, assim como Inferno no Ártico seria péssimo sem se passar em Barrow, Alasca. As provocações de alguns colegas nunca me incomodaram, porque meu comprometimento é com a história e só ela, não com os fiscais da brasilidade. A Segunda Morte de Suellen Rocha não teve jeito: era a história perfeita para acontecer numa cidade pequena e corrupta no interior de São Paulo. Havia muitas para escolher, mas eu quis criar uma cidade fictícia para poder tomar algumas liberdades geográficas, e assim nasceu Jepiri.
Fato 4- Quero que você conheça as Flores
Minha protagonista é a Mariana Kannenberg, cujos pais tinham uma floricultura quando ela era pequena. A paixão de Mariana por flores foi uma coisa interessante de explorar, porque eu particularmente nunca dei muita atenção para elas. As flores no texto têm conotações diferentes em momentos diferentes, que me recusei a deixar óbvias, dando ao leitor espaço de respiro para tirar suas próprias conclusões.
As quatro amigas adolescentes que cometem um crime bárbaro em Jepiri, Mariana, Dafne, Cacau e Suellen, escolhem uma flor para si, que decidem tatuar na lombar. Mariana tatua uma magnólia, Dafne uma amarílis, Cacau um lótus e Suellen uma tulipa. Mas nesse processo, algo dá terrivelmente errado. Quando Suellen é assassinada 20 anos depois, o delegado da cidade, o atual e violento marido de Mariana, faz a ligação:
"Francisco deixou o peso vencê-lo e abaixou o corpo do jeito mais delicado que conseguiu. Seios tremeram.
— Nada conclusivo na análise dos órgãos. Todos devidamente pesados e inspecionados, embalados e colocados dentro do corpo para o funeral. Logo logo entrego o laudo.
Gustavo não conseguiu imaginar o display de coração, estômago, fígado e companheiros, alinhados como frutas numa bancada de feira. A tatuagem era familiar demais, mas nas cores erradas, no formato errado.
Era quase igual a tatuagem de sua esposa."
Fato 5- No processo de escrita, eu fugi de moralismos e optei por não subestimar meus leitores
Muitos leitores ainda não conseguem lidar com a falta de uma "moral da história". Mas na ficção não precisa haver uma lição embutida. Para este livro, eu quis deixar um final agridoce, daqueles que fazem o leitor fechar o livro (ou desligar o Kindle) e ficarem olhando para a parede, questionando o certo e o errado. É inevitável que personagens irão morrer. É igualmente inevitável que outros irão se safar. Fugir do final "novela" era importantíssimo para mim, e optei por não subestimar meus leitores, contando que eles vão sacar o que foi dito nas entrelinhas e chegarem às suas próprias conclusões.
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